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Há pelo menos uns dez dias que não se fala de outra coisa nas redes sociais e na Blogosfera política. E, agora, até em grande jornal e na televisão. As Organizações Globo foram autuadas pela Receita Federal por sonegação de impostos que seriam devidos por conta de uma operação esdrúxula pelos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.O débito da Globo com o fisco alcança seis centenas de milhões de reais (!), houve autuação e, até o momento, não há confirmação do pagamento.
Tudo foi apurado pelo blog carioca Cafezinho, linkado nesta página. E repercutido intensamente nas redes sociais Twitter e Facebook e, em alguma medida, pela Folha de São Paulo, que deu as notícias a reboque de fatos que internautas já comentavam sem parar dias antes de o jornalão noticiar alguma coisa.
Um lembrete: quem paga por um jornal para se manter informado talvez devesse repensar a prática, pois, como se viu, a internet pode andar muitos passos adiante do jornalismo corporativo. Até porque, os documentos vazados pelo blog Cafezinho são públicos. Se a mídia corporativa não apurou esse dado, portanto, foi por absoluta falta de interesse.
A televisão, porém, andou ainda mais devagar do que a imprensa escrita. Até agora – e com bastante atraso –, a Rede Record, no âmbito de sua guerra particular com a Globo, exibiu uma reportagem sobre todo o caso e, ainda por cima, uma manifestação de cidadãos cariocas diante da sede da empresa da família Marinho no Rio de Janeiro, feita em protesto pela descoberta de que a emissora que vive denunciando escândalos de políticos aos quais se opõe e minimizando ou escondendo os de políticos aliados, não tem lá muita moral para falar em ética, pois empresa tão rica sonegar impostos equivale a qualquer corrupção de políticos, inclusive em termos de valores, pois os da Globo são exorbitantes, chegando quase à casa do bilhão de reais.
Contudo, o que as pessoas parecem não ter percebido, até o momento, é que esse caso todo explica com clareza a razão de tanto ódio da Globo aos governos do PT, um ódio que parece vir aumentando ano a ano depois do estouro do escândalo do mensalão, em 2005.
Note-se que a conclusão da investigação da Globo pela Receita data de 2006, quando foi aplicado auto de infração que redundou em multa multimilionária. Naquele ano eleitoral, Lula se recuperava do abalo do mensalão no ano anterior e se reelegeria presidente da República.
A Receita Federal que autuou a emissora naquele ano obedecia ao governo Lula. Nesse ponto, temos que atentar para um fato: é óbvio que a prática da Globo em 2002, valendo-se de empresa em paraíso fiscal para expatriar divisas a fim de fazer o pagamento dos direitos da Copa naquele ano sem passar pelo fisco brasileiro, não pode ter sido a primeira nem a única vez em que a emissora recorreu a tal estratagema.
O que falta as pessoas notarem é que nunca antes na história deste país se soube de a Globo ter sido autuada com tanta dureza por praticar o que, no mundo empresarial, chamam, eufemisticamente, de “contabilidade criativa”.
O governo Lula fez o que, repito, nunca antes na história deste país foi feito: incomodar a poderosa família Marinho com questões “menores” como pagar seus impostos como qualquer cidadão. Afinal, quando se fala no nome Marinho, neste país, não se está falando de qualquer um, mas de uma dinastia que há décadas paira acima da Nação.
Resta saber, porém, a razão pela qual até hoje não há confirmação irrefutável do pagamento da multa aplicada pela Receita. A Globo reconhece a existência do débito, mas não prova que pagou. Não mostra o Darf, como internautas vêm pedindo há semanas.
E a Receita, por que não cobra?
Em que pé está esse caso?
Quando o Erário será ressarcido?
Por que já caminha para sete anos a espera pela devolução de recursos que pertencem à sociedade?
A Receita e o próprio governo Dilma devem uma explicação ao país, também. A descoberta desse caso mostra que a fúria global contra o atual governo pode significar, inclusive, tentativa de intimidá-lo, de forma que “segure” a Receita Federal.
Resta saber se isso foi feito, porque quase sete anos é muito tempo para um débito fiscal de tal magnitude não ter sido pago. Além da conduta inaceitável da Globo, portanto, há uma postura igualmente reprovável da Receita e, por tabela, do governo federal, responsável pelo órgão e que, por certo, tem ciência de um escândalo dessa monta.
Agora que já se sabe por que a Globo fustiga tanto os governos do PT – aparentemente, por terem ido aonde nenhum brasileiro jamais foi em termos de tratá-la como a qualquer outro contribuinte, ainda que só até certo ponto –, há que saber até quando uma concessão pública continuará sendo usada impunemente para chantagear políticos.
WILL NUNES:
Agora vai o cidadão comum dever a Receita Federal. Fica sem nada e perde todos os créditos, sem poder comprar uma pipoca fiado. Já a TV Globo? Bom, é outra história.
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