Quem assistiu à sessão do Conselho de Ética da Câmara na semana
passada tinha todo o direito de se entusiasmar —ou pelo menos suspirar e
dizer: “Agora vai!” Seria um sinal de sensatez. Depois de oito meses de
manobra, aprovou-se por 11 votos a 9 o parecer que recomenda a cassação
do mandato de Eduardo Cunha. Mas a reincidência do ilógico parece ser
ilimitada na Câmara. E o grupo de Cunha insiste em articular a salvação
do mandato dele no plenário da Casa. Simultaneamente, o STF analisa a
hipótese de prender o deputado.
A ideia não é original: Cunha renunciaria à presidência da Câmara em
troca da preservação do seu mandato. Membros de sua infantaria afirmam
que ele já não é refratário à hipótese de abdicar da presidência. Por
duas razões: 1) o risco de cassação no plenário tornou-se real; 2) na
prática, Cunha não perderia nada, já que foi suspenso por tempo
indeterminado de suas atividades parlamentares pelo Supremo. As
conversas prosseguem nesta semana.
O procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu a prisão
preventiva de quatro morubixabas do PMDB. Os de Renan Calheiros, Romero
Jucá e José Sarney foram indeferidos pelo ministro Teori Zavascki,
relator da Lava Jato no STF. Mas o pedido relacionado a Eduardo Cunha
permanece sobre a mesa do magistrado como uma granada que pode ser
acionada a qualquer momento. Alega-se que Cunha, apesar de suspenso,
continuou operando como se nada tivesse sido descoberto sobre ele.
Adversários de Cunha dizem que já se formou no plenário da Câmara uma
maioria folgada pró-cassação . Nessa versão, a oferta de renúncia ao
comando da Casa teria chegado tarde demais. Pode ser. Mas não convém
baixar a guarda. No Legislativo brasileiro, nada tem história e pouca
gente tem biografia. Se permitirem que Cunha salve o mandato, ele
acabará substituindo Paulo Maluf como símbolo da reabsolvição eterna.
Por Josias de Souza