"Acredito que o PMDB estará conosco, ou no primeiro ou no segundo turno. Se a tese da candidatura própria vingar, vamos respeitar" |
Economista e ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e também ex-prefeito de Belo Horizonte por duas gestões, durante o período de 2002 a 2008, Fernando Pimentel (PT) não esconde sua animação com a disputa pelo governo do estado. Na sua avaliação, o quadro é um dos melhores para a oposição em Minas, derrotada nas três últimas eleições pelo PSDB. Tanto que, de acordo com o petista, é a primeira vez que os tucanos estimulam na disputa estadual o lançamento de uma terceira via para dividir os votos e garantir dois turnos. “Não estamos preocupados com detalhes de estratégia eleitoral, com dois ou três candidatos. Mas me parece que o PSDB está e trabalha por um terceiro candidato. Seja ele do PMDB, do PSB ou de que partido for”, afirma o ex-ministro, que, entre secretário, prefeito e vice, passou 16 anos na prefeitura da capital. Para ele, os mineiros já sentem os desgastes dos 12 anos de gestão do PSDB e querem mudanças. Pimentel ainda aproveitou para alfinetar seu adversário, o ex-ministro das Comunicações e também ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga (PSDB), lançado candidato ao governo pelo senador Aécio Neves (PSDB). “Minha candidatura não é invenção de ninguém. Não estou caindo de para-quedas. O caminho que me trouxe até aqui é um caminho de naturalidade. Fui secretário, vice-prefeito, prefeito, candidato a senador e ministro da presidente Dilma.”
Sobre o PMDB mineiro, que ensaia candidatura própria e há poucos dias se encontrou com lideranças do PSDB para discutir sucessão no estado, o ex-ministro é taxativo. Segundo ele, os dois partidos vão caminhar juntos em Minas Gerais, seja no primeiro ou no segundo turno. Pimentel disse que as duas legendas estão “conversando muito” e afirmou não acreditar na possibilidade de uma aliança do PMDB com o PSDB no estado. Sobre o metrô da capital – um dos assuntos que vão ser explorados pelo PSDB na campanha como um descaso do governo Dilma Rousseff com os mineiros – o ministro disse que tem dinheiro do governo federal para a execução da obra e que até agora ela não saiu do papel porque a Metrominas, órgão vinculado à Secretaria de Transportes e Obras Públicas, não tem projeto executivo. “Mas se até o fim do mandato, se o projeto não estiver pronto e eu for eleito governador, vamos tirar o metrô do papel”, garante. O pré-candidato não quis adiantar os principais pontos de sua campanha, assegurou apenas que a segurança pública que, segundo ele, enfrenta um dos piores momentos em Minas Gerais, será uma de suas prioridades.
Como estão as alianças? O senhor acredita que PT e PMDB vão caminhar juntos, ou o partido pode mesmo lançar candidato próprio ou quem sabe se aliar ao PSDB?
Acho que está muito cedo ainda para definirmos alianças, pois os partidos todos vão se definir mais adiante um pouco. Mas, no caso do PT e do PMDB, o mais natural é que a gente faça aliança desde o primeiro turno. Fizemos juntos as três últimas campanhas para o governo do estado. Não há nenhuma evidência de que isso vá ser alterado. Seria uma incongruência. Acredito que o PMDB estará conosco, ou no primeiro ou no segundo turno. Se a tese da candidatura própria vingar, vamos respeitar. O que não deve acontecer é uma aliança do PMDB com o PSDB, porque seria uma violência contra o eleitor que há 12 anos apoia o PT junto do PMDB. Mas as conversas estão caminhando muito bem.
Mas sem o PMDB o PT não vai ficar isolado, já que a coligação do PSDB deve ser bem ampla e com muitos partidos?
Essa história de falar que tal partido definiu por esse ou aquele candidato é precipitada. Não tem nada definido. Até porque os partidos têm alianças com o governo Dilma no plano nacional e no local dizem que vão se coligar com o PSDB, mas isso pode mudar. Muita água ainda vai correr por debaixo da ponte. Do lado de lá poderá haver alguma mudança de rumo, mas não quero antecipar nada porque aqui em Minas boa parte das conversas são feitas privadamente.
Existe uma conversa de bastidores de que uma terceira candidatura estaria sendo estimulada para quebrar a polarização e dividir votos. Para o PT seria interessante?
Do nosso ponto de vista não é interessante. Talvez do ponto de vista dos adversários seja, pois pela primeira vez na história política de Minas Gerais os tucanos estão em busca de um terceiro candidato. Eles ganharam três eleições seguidas no primeiro turno e agora, visivelmente, se esforçam para que tenha um terceiro candidato que leve a eleição para o segundo turno. Nós não estamos preocupados com isso. Estamos organizando nossa coligação e nossa campanha. Se for em um turno só, ótimo. Se for em dois turnos, não tem nenhum problema.
Queria que o senhor dissesse, em linhas gerais, quais serão algumas das principais propostas de seu programa de governo?
Vamos montar uma proposta ouvindo os mineiros. Estamos fazendo caravanas da participação, já fomos em quatro regiões do estado e visitamos várias cidades para ouvir de perto o cidadão, porque as pessoas querem ser ouvidas. Esse é um déficit que sinto em Minas Gerais. Fico até um pouco espantado como o governo do estado não avançou minimamente na direção de ouvir o cidadão, de fazê-lo participar. Hoje, temos tantas ferramentas, mas as pessoas não são ouvidas. O governo se afastou, por isso estamos conversando muito para saber o que a população – não só prefeitos, empresários e lideranças – quer para a segurança, saúde, educação e outros temas prioritários também, como a segurança pública.
Mas alguma área será prioritária?
Não quero ser precipitado nem leviano e muito menos fazer críticas e sugerir propostas sem ter um diagnóstico adequado, mas a insegurança em Minas é visível e preocupante. Tenho filhos adolescentes e, quando estou em Belo Horizonte, não durmo enquanto eles não chegam em casa intactos, porque a violência hoje é lugar comum nas grandes, pequenas e médias cidades e até na zona rural de Minas Gerais. Tenho certeza que esse sentimento de insegurança é, hoje, comum a todo pai e toda mãe em Minas, por isso posso antecipar que esse ponto vai ser uma das nossas principais preocupações. Estamos tentando diagnosticar o que está acontecendo. Parece que a polícia não tem efetivo nem equipamento suficientes. No interior, os prefeitos se queixam de que são eles que bancam a polícia, pagando gasolina, aluguel de dependência policial e às vezes até comida para presos de cadeias públicas. Há claramente um déficit de atenção e de cuidado. Sei que é uma questão difícil, mas é muito patente que estamos vivendo uma crise de segurança raramente vista em Minas Gerais.
O senhor enfrenta uma denúncia de improbidade por causa da instalação, em 2004, das câmeras de vigilância do projeto Olho Vivo, assunto que já vem sendo explorado pelos adversários na internet e com certeza deverá pautar a disputa. Isso não pode prejudicá-lo?
Todos os agentes públicos estão sujeitos a serem processados por algum promotor que entender que o que você fez não estava correto ou por alguma interpretação equivocada de algum procedimento administrativo. Para isso existe a justiça. No caso do programa Olho Vivo, foi um convênio extremamente útil para a cidade, uma tentativa há 10 anos de encarar esse problema da violência, que na época já era visível e começava a aparecer em BH. O cidadão, hoje, tem maturidade para diferenciar o joio do trigo e perceber quem errou ou tentou acertar, mas não fez da forma que o Ministério Público entendeu ser correta, e quem agiu de forma deliberada para usufruir de algum benefício. Eu não tenho problema com isso não, estou com a consciência tranquila. Não vou tentar censurar ninguém. A internet é território livre. Não vamos fazer campanha de baixaria contra ninguém. A sátira e a brincadeira fazem parte da nossa cultura política, e quem acessa a internet sabe bem distinguir isso. O caminho das pessoas atingidas não é barrar, é acionar a Justiça e pedir providências. Tirar do ar nunca. Isso é um atentado à liberdade de opinião.
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