A grande ambição de Eike não era se
tornar um Warren Buffet, um Paul Getty ou um bilionário vulgar: era ser
um Eliezer Baptista, seu pai, um dos fundadores do Brasil moderno.
Eike foi criado em um ambiente em que se
pensava o Brasil, o Rio dos anos 50 e 60 onde conviviam visionários,
juristas, políticos, financistas que celebravam o Poder, e não apenas a
riqueza.
Era esse reconhecimento que Eike ambicionava e o que o levou a não se conformar de ser apenas bilionário.
Ele foi um fenômeno de mercado,
primeiro, para depois se tornar um dos "campeões nacionais" apoiados
pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Vários fatores contribuíram para isso:
1. A explosão do Brasil no mercado
internacional, depois da crise de 2008, e a percepção de que a
infraestrutura brasileira se tornaria um dos investimentos mais
atrativos para o capital financeiro.
2. O sucesso de Eike nas suas primeiras
investidas internacionais, atraindo capital canadense e britânico para
suas minas de ouro e ferro.
3. A enorme liquidez internacional, fruto da política norte-americana de estímulos monetários.
4. O apoio expresso do governo, que há
anos sonha com os grandes empreendedores articulando capital privado
para as obras de infraestrutura.
5. O sonho de novo Eldorado, trazido pelas descobertas do pré-sal.
6. A visão estratégica de Eliezer Baptista.
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O que Eike fez foi embalar todos esses
sonhos em planos de negócio ousados, atrair grandes executivos com
participação em resultados e ir a mercado captar recursos privados e
públicos. A visibilidade que ganhou, a celebração dele pela mídia
nacional a internacional, como um novo Bill Gates, criaram a ilusão
final. E aí o mercado aboliu completamente as análises de risco.
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Todas as empresas de Eike formavam um
todo lógico em torno da petroleira OGX. Os poços justificariam os
estaleiros, os portos, com os investimentos de tal forma amarrados entre
si, que o fracasso da nave mãe, a OGX, levaria os demais a pique.
Para a engrenagem funcionar, haveria a
necessidade do cumprimento de cronogramas rigorosos, que permitissem a
geração de caixa em tempos exíguos.
Além disso, todas as empresas nasceram
do zero. Contratação de pessoas, definição de sistemas, montagem de
processos, regras de negócios, contato com fornecedores, não são
trabalhos triviais.
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Com o tempo, ficaram nítidas algumas
características preocupantes na personalidade de Eike: um deslumbramento
com o próprio sucesso e com a própria riqueza.
O primeiro sinal de debilidade
administrativa foi quando seu principal executivo, Rodolfo Landim,
tirado a preço de ouro da Petrobras, pediu as contas. Foi só aí que o
estilo pouco gerencial de Eike passou a ser levado a sério pelo mercado.
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Tudo poderia ter sido superado se a OGX
de fato produzisse petróleo. Mas, depois de diversos factóides, da
divulgação de relatórios otimistas sobre sua capacidade e, depois, da
constatação de que não conseguiria ser viável, ruiu o mundo de Eike.
O desastre não afetará o país. Mas
atrasará a gana dos investidores em buscar projetos grandiosos, à altura
do que é exigido nos investimentos de infraestrutura.