A
única vez que vi Aécio fora das telas da tevê foi numa noite de outubro
de 2003, durante a escolha do samba da Mangueira, na quadra da escola. À
época, Aécio, que agora quer presidir o Brasil, governava Minas e
pagava, exatamente igual aos bicheiros em outras agremiações, pelo
desfile da escola mais famosa do Rio, cidade onde passava parte enorme
de seu tempo. Passava bem, aliás.
Por exemplo, o neto de Tancredo
usufruiu daquela madrugada de sábado para domingo ora beijando a loura
Jacqueline, ora afagando a morena Manoela - sempre cercado pela
entourage de camisas de mangas compridas inexplicavelmente impecáveis
diante dos sacolejos do samba. Tudo no principal camarote da Mangueira, à
vista das milhares de pessoas que aguardavam a escolha do samba-enredo.
Lá
pelas 4 da manhã, samba escolhido, Aécio patrocinador foi chamado a uma
espécie de púlpito, colocado na quadra no extremo oposto do
camarote-mor, para saudar a escolha da música que guiaria os
salgueirenses no Carnaval do ano seguinte. Trôpego, precisou ser
literalmente amparado pelos seus, para mal conseguir balbuciar um
“obrigado” à massa que mais queria sambar do que ouvir o velho
proselitismo de mais um político.
Aécio Neves
É
inevitável lembrar daquela madrugada dez anos depois, quando ao mesmo
Aécio arranjaram uma presidência do PSDB para que ele tivesse alguma
justificativa de estar nos jornais de manhã, na rádio à tarde e no
noticiário de tevê, em horário nobre e cadeia nacional, às oito da
noite, tentando encontrar uma forma de criticar o governo.
Mesmo
com todo esse espaço, o moço apenas balbucia, como na Mangueira há uma
década. Sem discurso, chefia um partido que carece de bandeiras, e pior:
que tem como alternativa interna para 2014... Serra! Aquele que já
tentou a presidência assumindo o que há de mais reacionário na sociedade
brasileira – da luta contra o aborto à pregação religiosa - e
utilizando estratégias que lhe definem o caráter pessoal, da espionagem a
dossiês contra seus próprios aliados.
Claro que lá na frente o
PSDB – seja com Aécio ou Serra – pode se compor com Campos ou Marina,
que agora se dedicam a fabricar alguma identidade entre o PSB e a Rede.
No momento, os tucanos só dispõem da imagem de que a mídia convencional
lhes provê, para compensar a essência de que carecem. Continuam
boquiabertos a assistir Dilma fazendo seu Carnaval a cada pesquisa.
Talvez, até, sem saber que foi a Beija-Flor quem levou o desfile de
2004.
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
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