sexta-feira, 1 de novembro de 2013

JORNALISTA CARLOS TAUTZ: AÉCIO NEVES

A única vez que vi Aécio fora das telas da tevê foi numa noite de outubro de 2003, durante a escolha do samba da Mangueira, na quadra da escola. À época, Aécio, que agora quer presidir o Brasil, governava Minas e pagava, exatamente igual aos bicheiros em outras agremiações, pelo desfile da escola mais famosa do Rio, cidade onde passava parte enorme de seu tempo. Passava bem, aliás.

Por exemplo, o neto de Tancredo usufruiu daquela madrugada de sábado para domingo ora beijando a loura Jacqueline, ora afagando a morena Manoela - sempre cercado pela entourage de camisas de mangas compridas inexplicavelmente impecáveis diante dos sacolejos do samba. Tudo no principal camarote da Mangueira, à vista das milhares de pessoas que aguardavam a escolha do samba-enredo.

Lá pelas 4 da manhã, samba escolhido, Aécio patrocinador foi chamado a uma espécie de púlpito, colocado na quadra no extremo oposto do camarote-mor, para saudar a escolha da música que guiaria os salgueirenses no Carnaval do ano seguinte. Trôpego, precisou ser literalmente amparado pelos seus, para mal conseguir balbuciar um “obrigado” à massa que mais queria sambar do que ouvir o velho proselitismo de mais um político.

Aécio Neves

É inevitável lembrar daquela madrugada dez anos depois, quando ao mesmo Aécio arranjaram uma presidência do PSDB para que ele tivesse alguma justificativa de estar nos jornais de manhã, na rádio à tarde e no noticiário de tevê, em horário nobre e cadeia nacional, às oito da noite, tentando encontrar uma forma de criticar o governo.

Mesmo com todo esse espaço, o moço apenas balbucia, como na Mangueira há uma década. Sem discurso, chefia um partido que carece de bandeiras, e pior: que tem como alternativa interna para 2014... Serra! Aquele que já tentou a presidência assumindo o que há de mais reacionário na sociedade brasileira – da luta contra o aborto à pregação religiosa - e utilizando estratégias que lhe definem o caráter pessoal, da espionagem a dossiês contra seus próprios aliados.

Claro que lá na frente o PSDB – seja com Aécio ou Serra – pode se compor com Campos ou Marina, que agora se dedicam a fabricar alguma identidade entre o PSB e a Rede. No momento, os tucanos só dispõem da imagem de que a mídia convencional lhes provê, para compensar a essência de que carecem. Continuam boquiabertos a assistir Dilma fazendo seu Carnaval a cada pesquisa. Talvez, até, sem saber que foi a Beija-Flor quem levou o desfile de 2004.

Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

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