Intelectual
respeitado, que foi ministro de FHC e tesoureiro do PSDB, o cientista
político Luiz Carlos Bresser Pereira parece cada vez mais desapontado
com os rumos tomados por ex-aliados. Ontem, no Estado de S. Paulo, FHC
publicou um artigo em que cobrava pressa do Supremo Tribunal Federal e
exigia a prisão dos réus da Ação Penal 470 (leia aqui).
Hoje, no que talvez seja uma resposta a FHC, Bresser condena o "ataque
moralista da direita" no Brasil. Segundo o cientista político, a direita
brasileira adota um discurso vazio, que passa pelo moralismo e pela
negação da própria política, sem que tenha uma agenda para o
desenvolvimento. Leia abaixo:
O ataque moralista da direita
Durante o governo Dilma, a direita recuperou a voz, mas vazia, de condenação de todos os políticos
Nestes últimos meses vimos a direita
recuperar o dom da palavra. Em 2002 ela se apavorara com a perspectiva
da eleição de um presidente socialista. O medo foi tanto e contaminou de
tal forma os mercados financeiros internacionais que levou o governo
FHC a uma segunda crise de balanço de pagamentos.
O novo presidente, entretanto, logo
afastou os medos dos ricos que então perceberam que não seriam
expropriados. Pelo contrário, viram um governo procurando fazer um pacto
político com os empresários industriais e que não hostilizava a
coalizão política de grandes e médios rentistas e dos financistas.
Por outro lado, o novo governo de
esquerda pareceu haver logrado retomar o crescimento econômico, ao mesmo
tempo que adotava uma politica firme de distribuição de renda. Na
verdade, beneficiava-se de um grande aumento nos preços das commodities
exportadas pelo país, e da possibilidade (que aproveitou de forma
equivocada) de apreciar a moeda nacional que se depreciara na crise de
2002.
Lula terminou seu governo com
aprovação popular recorde, e com a direita brasileira sem discurso.
Deixou, porém, para sua sucessora, a presidente Dilma, uma taxa de
câmbio incrivelmente sobreapreciada, que, depois de haver roubado das
empresas brasileiras o mercado externo, agora (desde 2011) negava-lhes
acesso ao próprio mercado interno.
Sem surpresa, os resultados
econômicos dos dois primeiros anos de governo foram decepcionantes. E,
no seu segundo ano, foram combinados com o julgamento do mensalão pelo
STF, transformado em grande evento político e midiático.
Com isto o governo se enfraqueceu, e
a direita brasileira recuperou a voz. Mas uma voz vazia, liberal e
moralista. Liberal porque pretende que a solução dos problemas é
liberalizar os mercados ainda mais, não obstante os maus resultados que
geraram. Moralista porque adotou um discurso de condenação moral de
todos os políticos, tratando-os de forma desrespeitosa, ao mesmo tempo
que continuava a apoiar em voz baixa os partidos de direita.
Quando, devido às manifestações de
junho, os índices de aprovação da presidente caíram, a direita
comemorou. Não percebeu que caíam também os índices de aprovação de
todos os governadores. Nem se deu conta de que a presidente logo
recuperaria parte do apoio perdido.
Quando o STF afinal garantiu a doze
dos condenados do mensalão um novo julgamento de alguns pontos, essa
direita novamente se indignou. Agora era a justiça que também era
corrupta.
Quando o deputado José Genoino
(condenado nesse processo porque era presidente do PT quando as
irregularidades aconteceram) manifestou o quanto vinha sofrendo com tudo
isso --ele que, de fato, sempre dedicou a sua vida ao país, e hoje é um
homem pobre--, essa direita limitou-se a gritar que o Brasil era o
reino da impunidade, em vez de perceber que o castigo que Genoino já
teve foi provavelmente maior do que sua culpa.
Os países democráticos precisam de
uma direita conservadora e de uma esquerda progressista. Mas cada uma
deve ter um discurso que faça sentido, em vez do mero moralismo que a
direita vem exibindo.
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