quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

HOJEEMDIA: ENTREVISTA O PRESIDENTE DA CEMIG MAURO BORGES

Frederico Haikal/Hoje em Dia
Mauro Borges garante que não deixará a Cemig
Borges disse que boatos sobre sua queda seriam para 'desmoralizar' a Cemig
Um dos principais homens de confiança do governador Fernando Pimentel, Mauro Borges, presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), recebeu nessa quarta (6) à tarde a reportagem do Hoje em Dia para uma entrevista na sede da companhia.
Ele negou que vá deixar o cargo na maior empresa integrada de energia do Brasil, conforme foi ventilado no mercado, falou sobre a investigação na operação Acrônimo, que apura desvio de dinheiro público e formação de Caixa 2 para campanha eleitoral, comentou sobre os rumos da companhia, e confirmou que a Cemig Telecom irá anunciar, no próximo mês, um novo parceiro para prestar serviços a grandes consumidores.
Na segunda-feira, fontes do mercado diziam que o senhor havia pedido demissão da Cemig. É verdade?
Nego veementemente. É importante esclarecer que foi um boato que não surgiu no mercado, mas na grande imprensa. E que obviamente foi difundido no mercado, mas que tanto o governo estadual, controlador da empresa, quanto a Cemig, desmentiram. Foi um boato que só teve a intenção de desmoralizar a empresa.
O fato de o senhor ser investigado na Operação Acrônimo pode afetar os papéis da Cemig?
Fui arrolado como objeto de investigação da Polícia Federal, que ainda está em estágio de inquérito. Ainda não se transformou em processo. Tenho total confiança e consciência tranquila de que essa operação vai concluir que não existe nada ilícito. O que nós fizemos no Ministério (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) foi dentro de uma política pública, política industrial, que beneficiou o Brasil. Temos total segurança de que utilizamos todos os instrumentos legais para implementar essa política que envolve desde Medidas Provisórias, que resultaram em leis, portarias presidenciais, decretos, portarias ministeriais e atos normativos do Ministério, que viabilizaram a política industrial do Brasil. Temos plena tranquilidade do resultado dessa investigação. E o que nós fizemos não tem nada a ver com qualquer desvio de dinheiro público ou qualquer coisa que contrarie o interesse público. No Brasil, temos que separar o que é ser investigado e o que é ser condenado. Uma investigação não dá nenhum indício e culpabilidade. Acredito que a investigação não irá resultar em processo e, muito menos, em condenação. São coisas completamente diferentes. O mercado tem confiado na nossa idoneidade, tanto é que não houve qualquer alteração de queda de valor das ações em função dessa investigação. Em função do mercado, estamos muito tranquilos em função da investigação.
Houve negociação de portarias para beneficiar alguma montadora quando o senhor era ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior?
Nunca houve negociação de portarias, obviamente. No mesmo dia foram editadas mais de 20 portarias. Não sei porque uma portaria seria diferente das demais, já que fazíamos isso em blocos. São portarias padrão, usadas para regulamentação do “Inovar-auto”. É muito mais um problema de entendimento de como funcionava o regime automotivo brasileiro.
A Cemig Telecom está em busca de um parceiro para captar recursos? Como seria esse projeto?
Temos um projeto em andamento chamado Green. Ele busca trazer um parceiro privado para realizar os investimentos necessários da Cemig Telecom nas suas funções de prestadora de serviços de telecomunicações, inclusive na função de operadora, vendendo para grandes consumidores. Então, estamos preservando essa função de serviços da Telecom como estatal. Vamos vender esse serviço para as operadoras que trabalham na ponta do serviço de telefonia do Brasil, como Oi, TIM, Vivo, Claro, entre outras. É um serviço importantíssimo e de qualidade bastante precária em vários locais do Brasil. Essa infraestrutura permite que você melhore enormemente a qualidade da internet e da telefonia celular para todo o interior de Minas Gerais. A Cemig entra com a infraestrutura e o investidor entra com o dinheiro. O investimento inicial será de R$ 300 milhões, R$ 400 milhões para a construção de torres em cada cidade de Minas Gerais. A forma mais barata que vimos para viabilizar foi trazendo um parceiro externo. Esse negócio está prestes a ser concluído. Devemos fechá-lo em fevereiro de 2016.
A Cemig tem alguma estratégia para melhorar o desempenho dos papéis e atrair os investidores externos?
Tivemos eventos fundamentais relacionados à recuperação. Eu citaria três grandes esforços: o primeiro foi a recuperação das usinas antigas, cujas concessões estavam vencidas e que seriam devolvidos ao poder concedente. Nós conseguimos construir uma solução por meio da Medida Provisória 688. A Cemig participou do leilão e foi vitoriosa no lote D, onde estavam 18 usinas. E recuperamos um patrimônio considerado perdido pela empresa. Um segundo esforço foi a renovação da concessão da Cemig distribuição, a maior do Brasil. Conseguimos a renovação por mais 30 anos. Esse é um fato para grande comemoração. Não houve qualquer outorga. Foi uma renovação baseada em compromissos. Foi uma vitória muito importante. Estamos garantindo um legado extremamente importante para os consumidores mineiros.
E o terceiro ganho?
É o ajuste do ponto de vista das contas. A Cemig é uma empresa de alto custo. É uma estatal que tem um nível de custo corporativo muito alto. Nós temos um grande esforço em trazer esses custo para um nível competitivo do setor elétrico. É um esforço relevante, com resultado concreto. E que ajuda a recuperar o valor de mercado da companhia.
Além de recuperar o valor de mercado, essas ações ajudam a captar recursos?
Sim. E a reduzir o valor da dívida da companhia. Na verdade, estamos recuperando a capacidade de geração da empresa, como aconteceu com a vitória do leilão das 18 usinas. Garantimos que haverá uma receita por mais 30 anos. Reduzimos enormemente o custo de operação da empresa, aumentamos o resultado da Cemig.
A dívida da Cemig para 2016 (R$ 4,2 bilhões) é a maior da companhia até 2022. Não é preocupante? Os recursos que têm sido captados no mercado externo são para quitar essas dívidas?
A gente tem um indicador usado, que é a dívida líquida sobre o caixa da empresa, o lajida. A relação dívida por lajida dá um parâmetro muito transparente. Em 2015 ela foi de 2,52 e, em 2016, a previsão é de que seja 3,88. Isso aconteceu devido aos R$ 2,2 bilhões que estamos pagando de outorga do certame que vencemos. É um aumento sustentável, uma vez que arrematamos as 18 usinas no leilão. Mas essas usinas geram caixa. Elas geram receita em 2016 mesmo. Esse esforço é mais do que compensador. Esse endividamento é bastante sustentável devido ao tamanho da Cemig. Para efeitos de mercado é muito sustentável.

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