domingo, 29 de janeiro de 2012

MINAS GERAIS: A HISTÓRIA DE THALES MAIOLINE: O HOMEM QUE SEGUNDO O MINISTÉRIO PÚBLICO DEU UM GOLPE DE 100 MILHÕES DE REAIS


O empresário Thales Emanuelle Maioline, de 36 anos, exibia luxo e glamour para atrair clientes para o seu negócio. Por quatro anos, foi bem-sucedido: conseguiu pelo menos R$ 100 milhões em investimentos, segundo cálculos do Ministério Público Estadual (MPE). Mas o esquema era uma pirâmide, que acabou ruindo. A versão mineira de Bernard Madoff, operador de Wall Street acusado de controlar um esquema bilionário semelhante, pode ser encontrada agora no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp), na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Lá, divide uma cela com 17 detentos, toma banho de sol quatro vezes por semana e aguarda, nos próximos meses, julgamento por estelionato, formação de quadrilha e falsificação de documentos, podendo pegar 14 anos de prisão.

Mas é na prisão que Thales finalmente se sente seguro. Foi com medo de suas vítimas — cerca de 2 mil investidores — que o empresário protagonizou uma das mais rocambolescas histórias de fuga do país, ao passar dias acampado na Floresta Amazônica e foragido em cidades da Bolívia.

Segundo o MPE, a história de Thales começou em 2006, quando criou a Firv Consultoria, em Belo Horizonte, empresa que oferecia "renda fixa garantida" de 5% ao mês por meio do chamado Fundo de Investimento Capitalizado (Ficap). O ganho exorbitante numa aplicação, em tese, sem riscos, atraiu muita gente. Mas, de acordo com o MPE, Maioline não aplicava todo o dinheiro que recebia. Ele remunerava os "cotistas" mais antigos com recursos depositados por novos clientes. O esquema cresceu rapidamente e durou quatro anos, período em que Thales enriqueceu meteoricamente e comprou carros, casas, lancha.

Acusado fugiu para Bolívia de canoa e carro de boi

Foi em 23 de julho de 2010 que o esquema ruiu, três dias após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) alertar publicamente para a "oferta irregular" da Firv Consultoria. Naquele dia, ele teria um encontro com um investidor em São Paulo, que estaria disposto a colocar R$ 20 milhões na Firv. O "homem do dinheiro" era a última esperança para prolongar suas atividades financeiras, mas não apareceu. Sem dinheiro para cobrir os saques de clientes provocados pelo alerta da CVM e com medo de ser morto, Maioline decidiu sumir. Não avisou ninguém, nem sua mulher nem seus funcionários. Sem voltar ao hotel, com R$ 20 mil no bolso, embarcou num ônibus e percorreu 2 mil quilômetros até Rondônia, com uma parada para dormir em Mato Grosso.

A investigadores, Thales disse ter vendido um computador que carregava. Comprou uma barraca e ficou acampado por alguns dias na floresta na área de Pimenteiras (RO), a poucos metros da fronteira com a Bolívia. Em um hotel de pesca, acessava a internet e tinha notícias de Minas Gerais, onde centenas de investidores denunciavam seu desaparecimento e cobravam providências da polícia.

Thales decidiu passar para o lado boliviano e, de canoa, viajou até a cidade de Remanso, pelo Rio Guaporé. Passou incólume pelo posto da Polícia Federal na fronteira. Alugou um quarto em uma casa de turistas, onde nunca perguntaram seu nome. Sem internet, não sabia o que se passava em sua terra natal, por isso decidiu viajar a Santa Cruz de La Sierra. Foram três dias de percurso, em um carro de boi com botijões de gás. Por quatro meses, monitorou sua situação pela internet. Visitava outras cidades da região, mas a cada dia sabia que a vida no país vizinho não teria como durar muito.

— Ele voltou por causa das ameaças à sua família. Tinha medo de que matassem sua mulher, filho, irmã. Não tinha outra opção — conta o advogado Marco Antônio de Andrade, que alugou um carro e viajou até a Bolívia para buscar Thales, quando ele resolveu se entregar à polícia, cinco meses após a fuga.

Nas 14 mil páginas do processo contra Thales e outros três acusados que tramita na Justiça, há relatos de centenas de vítimas. Desde as histórias de agricultores e pequenos comerciantes de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, onde ele nasceu, a empresários que investiram até R$ 2,3 milhões — caso dos irmãos Itamar e Geraldo Torres, donos de uma construtora que, em dois anos, fez 48 contratos com a empresa de Thales.

— Para entrar, era sempre assim: alguém da família ou amigo lhe convidava para uma reunião, onde tudo era explicado pelo Thales. Ele parecia um cara de boa índole — diz o técnico em mineração Ricardo Rezende.

Recém-demitido da empresa onde trabalhava, Rezende colocou todo o dinheiro da rescisão trabalhista nas mãos de Thales. Sem trabalho, recebia juros de até 6% ao mês. Era incentivado a reinvestir os ganhos, o que fez até o dia em que o sistema ruiu. Perdeu cerca de R$ 140 mil:

— O fato de ele estar preso é um bom sinal. Mas, em relação ao dinheiro, não tenho qualquer esperança de reavê-lo.

Advogado nega golpe e diz que Thales era investidor

Segundo o MPE, os bens de Thales estão bloqueados, como carros e imóveis. O valor total, no entanto, é muito inferior ao que as vítimas reclamam. Para descobrir se o dinheiro foi enviado ao exterior, seria necessária investigação do Ministério Público Federal, já que evasão de divisas é crime federal. Mas a Justiça entendeu que o caso seria julgado localmente.

— Duas famílias mudaram de cidade por vergonha. Uma mulher que vendeu a casa e o carro por causa do lucro oferecido perdeu R$ 110 mil. Está em tratamento contra depressão — diz Eliete das Graças Silveira, advogada de 30 vítimas.

Segundo o advogado de Thales, seu cliente era um investidor da Bolsa e o valor de R$ 100 milhões seria incorreto. Sobre o alerta da CVM, ele disse que clientes sabiam que Thales "investia como pessoa física".

fonte: jornal o globo




obs: em Vazante existem especulações que várias pessoas também foram vítimas do esquema montado por Thales Maioline.


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