terça-feira, 29 de março de 2011

A VIDA DE JOSÉ ALENCAR

José Alencar Gomes da Silva foi um homem com várias fases: passou pela infância simples, depois tornou-se um empresário de sucesso, na meia-idade decidiu entrar para a política, e, no fim da vida, virou um símbolo da luta pela sobrevivência. Após 17 cirurgias e mais de dez anos, por pouco ele não atendeu ao pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou que gostaria que o vice-presidente o acompanhasse na descida da rampa do Palácio do Planalto, no dia 1º de janeiro de 2011. Alencar nasceu em 17 de outubro de 1931 no lugarejo de Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira, filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Aos 14 anos de idade, deixou a casa paterna para trabalhar de balconista numa loja de armarinhos da cidade de Muriaé. Ganhava 600 cruzeiros por mês. Pouco tempo depois, transferiu-se para Caratinga, onde continuou a trabalhar de balconista. Aos 18 anos, emancipado pelo pai, estabeleceu-se como comerciante, com a lojinha “A Queimadeira”, cujo nome foi sugerido por um viajante, sob o curioso argumento de que “se fosse um bar, seria Bar Cristal; mas não é um bar, então é ‘A Queimadeira’, porque vai vender barato...” Depois de “A Queimadeira”, Alencar foi viajante comercial, atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão, atacadista de tecidos e industrial do ramo de confecções. Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, fundou em Montes Claros a Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas, hoje um dos maiores grupos industriais têxteis do país. Na condição de empresário, José Alencar dedicou-se também às entidades de classe, tendo sido presidente da Associação Comercial de Ubá, diretor da Associação Comercial de Minas, presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Em 1994, candidatou-se ao governo de Minas Gerais, mas foi derrotado. Em 1998, elegeu-se senador por Minas Gerais com quase três milhões de votos. Finalmente, em 2002, compôs a chapa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, elegendo-se vice-presidente da República, cargo para o qual foi reeleito em 2006. No posto de vice-presidente, notabilizou-se pela defesa da redução nas taxas de juros, pedido que repetia a cada vez que deixava o hospital. Entre 2004 e 2006, acumulou o cargo de ministro da Defesa. José Alencar Gomes da Silva era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e teve com ela três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia. Em setembro de 2010, A Justiça determinou que ele reconhecesse a paternidade da professora Rosemary de Morais, de 55 anos. Luta de José Alencar contra o câncer O vice-presidente José Alencar lutou contra o câncer durante 13 anos. Nesse período, o político e empresário mineiro foi submetido a 17 cirurgias para retirada de tumores e para contornar as complicações que eles causavam em seu corpo. Em 1997, foram descobertos e retirados dois tumores malignos - um no estômago e outro no rim direito. Em 2000, foi extraído outro tumor da próstata. Quatro anos depois, Alencar passou por uma operação para a retirada da vesícula biliar. Em 2005, problemas cardíacos levaram o vice-presidente à sala de cirurgia para uma angioplastia. Em 2006, Alencar começou a luta contra os tumores na região abdominal. Em julho, foi retirado um tumor maligno. Em novembro do mesmo ano, o vice-presidente foi aos Estados Unidos para a retirada de outro nódulo. Em 2007 e 2008, foram mais duas cirurgias. Em janeiro de 2009, ele enfrentou cerca de 17 horas de uma operação de alto risco, para a retirada de nove tumores no abdômen. Os médicos também removeram parte do intestino delgado, outra do intestino grosso e uma porção do ureter, canal que liga o rim à bexiga. Alencar ficou internado 22 dias após a operação. Depois de enfrentar 13 cirurgias, o câncer - um sarcoma - voltou e se espalhou em 18 pequenos tumores na mesma região. No dia 9 de julho, Alencar foi submetido a uma cirurgia de cerca de seis horas para desobstrução da alça do intestino delgado. Nesta operação, foram retirados dez dos 18 nódulos. No dia 23 de julho, após insistir muito, o vice-presidente recebeu alta. Ao conversar com jornalistas na porta do hospital, ele afirmou que havia vencido mais uma batalha, mas não a guerra. No dia seguinte, voltou ao Sírio-Libanês, sendo submetido à 15ª operação, uma colostomia (abertura no abdome para drenagem fecal). Os oito tumores que não foram retirados voltaram a obstruir seu intestino. A colostomia já havia sido indicada na outra operação, mas Alencar recusara. O político então realizou um tratamento experimental contra a doença em Houston, Estados Unidos. No entanto, em agosto de 2009 exames constataram que o tratamento não surtiu os efeitos desejados e Alencar voltou a realizar sessões de quimioterapia. Em julho de 2010, Alencar foi submetido a um cateterismo, que detectou uma obstrução grave na artéria descendente anterior do coração. Os médicos realizaram em seguida a 15ª cirurgia do político, uma angioplastia, e colocaram um stent, peça parecida com uma pequena mola que impede a interrupção do fluxo sanguíneo. O vice-presidente sentiu, em setembro, desconforto respiratório e foi diagnosticado com um edema agudo no pulmão. Dois meses depois, em 11 de novembro, Alencar sofreu um infarto agudo no miocárdio. Um cateterismo indicou que artérias importantes não haviam sido comprometidas. Alencar voltou à mesa de cirurgia para seu 16º procedimento cirúrgico em 27 de novembro, quando teve parte do tumor e do intestino delgado retirados, com o objetivo de desobstruir o intestino. O procedimento durou cerca de seis horas. Depois desta cirurgia, ele passou a apresentar piora na função renal e iniciou sessões de hemodiálise. No dia 22 de dezembro deste ano, o vice-presidente realizou uma cirurgia de emergência, a 17ª, que teve como objetivo estancar uma hemorragia abdominal. Porém, segundo a equipe médica, o procedimento foi interrompido sem que fosse possível alcançar o local do sangramento. Por conta da nova operação, o tratamento de quimioterapia pelo qual passava Alencar teve que ser suspenso. Alencar passou as festas de fim de ano na UTI do hospital, pois os médicos não conseguiram conter as hemorragias intestinais do vice-presidente. A equipe médica não deu alta para que ele comparecesse à cerimônia de posse da presidente Dilma Rousseff, que aconteceu no primeiro dia de 2011. Alencar lamentou sua ausência na posse, mas afirmou estar aplaudindo o momento de longe, enquanto se despedia do cargo de vice-presidente “com a sensação de dever cumprido”, segundo afirmou. Durante a cerimônia, Dilma Rousseff homenageou o ex-vice tanto no discurso do Congresso, quanto no pronunciamento à nação no Palácio do Planalto. A quimioterapia foi retomada no dia quatro de janeiro, mas o intervalo longe do tratamento fez com que os tumores crescessem. Na tarde do mesmo dia, Alencar voltou a apresentar sangramento intestinal e foi transferido para a UTI. Mas, dia 16 de março ele apresentou melhoras e recebeu alta do hospital. No entanto, dia 28 de março o ex-vice voltou a apresentar obstrução intestinal e foi novamente internado na UTI “em estado crítico”.

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