O menor dos problemas de Marina Silva no momento é conseguir completar as 491.656 assinaturas necessárias para registrar a sua Rede Sustentabilidade como partido até o próximo dia 5 de outubro no Tribunal Superior Eleitoral.
Até agora, a RS conseguiu certificar cerca de 200 mil assinaturas nos cartórios eleitorais, das cerca de 850 mil que afirma ter coletado, como Marina informou em entrevista coletiva neste domingo, após seu nome aparecer em segundo lugar no Datafolha, subindo de 23% para 26% e confirmando que, mesmo sem partido, a ex-senadora do PT é até agora a principal opositora da candidatura de Dilma Rousseff à sucessão.
Digamos que, por algum milagre, a vice-líder nas pesquisas consiga nestes menos de dois meses que restam para o prazo fatal do TSE certificar as quase 300 mil assinaturas que faltam para o registro do partido e possa então ser candidata pela segunda vez à Presidência da República com um partido para chamar de seu.
E digamos ainda que, no correr da campanha, Marina ultrapasse Dilma e seja eleita. Aí sim começariam seus problemas mais sérios. Quando foi lançada, a RS esperava contar com pelo menos 20 deputados nesta legislatura, o que já seria quase nada numa Câmara com 513 parlamentares. Mas, até agora, apenas três estão realmente empenhados em criar o partido, todos sem muita expressão: os deputados federais Alfredo Sirkis (PV-RJ), Walter Feldman (PSDB-SP) e Domingos Dutra (PT-MA).
Em 2010, quando foi candidata do PV em aliança com outros nanicos, Marina teve 20 milhões de votos e levou as eleições para o segundo turno, mas agora não há no horizonte nenhuma coligação partidária em vista, nem mesmo com seus antigos parceiros verdes.
Sem palanques, sem bancadas fortes nos Estados, como e com quem a ex-senadora montaria seu governo caso seja eleita? Só tem um jeito: seria se aliar com partidos como o PMDB, que apoiam qualquer um, e outros do gênero, a escória da política que ela tanto rejeita e tem-lhe servido de diferencial para capturar os votos das massas indignadas dos protestos. Se for para ser assim, então para que ganhar?
Conheço muita gente como eu, que admira e simpatiza com Marina, e até poderia votar nela, desde que não tenha chances efetivas de ganhar, exatamente porque governar o Brasil exige um mínimo de condições concretas para uma administração ficar de pé, não só em termos de alianças políticas, mas também de vínculos com os diferentes movimentos sociais. Mais difícil é encontrar alguém que consiga entender e explicar em poucas palavras quais são os reais objetivos de um possível governo Marina e no que ele seria diferente daqueles que tivemos até hoje.
Os únicos apoios visíveis da vice-líder nas pesquisas até agora vieram de duas grandes empresas, uma do ramo de cosméticos e outra da área das altas finanças, além de alguns setores da grande mídia, que já não confiam na oposição demo-tucana e estão em busca de um candidato, qualquer um capaz de derrotar o PT.
Marina subiu 10 pontos no Datafolha depois das manifestações de junho, foi a que mais ganhou com os protestos "contra tudo e contra todos", mas isso não foi suficiente para capturar nenhum apoio político-partidário-eleitoral até agora. O quadro partidário é este que está aí, gostemos ou não, com cerca de 30 siglas, e nada indica que novidades surjam até outubro, até porque é possível importar médicos, mas não políticos. A não ser que alguém ache realmente viável termos um país do tamanho do Brasil governado "sem partidos e sem políticos", como pregavam alguns cartazes no tsunami dos protestos.
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