jornalista Ricardo Kotscho observa que, a despeito da crise e do aumento diário da tensão política, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aderiram ao recesso de Páscoa e só devem a voltar a analisar o processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo dia 30; "Até lá, com o País paralisado, ficaremos todos em suspense, esperando o que os donos do poder vão fazer de nós", escreveu; "depois de assistirmos nos últimos tempos à politização do Judiciário, vemos agora a judicialização da política, com os dois movimentos correndo paralelamente e colocando sob risco as instituições e o próprio processo democrático", completou.
Os primeiros dias de outono foram mais quentes do que de costume e nada indica que a temperatura caia tão cedo nos gabinetes de Brasília e nas ruas conflagradas. No auge da crise, no momento em que os destinos do País estão cada vez mais nas mãos do Supremo Tribunal Federal, os ministros saíram para o recesso de Páscoa e avisaram que só voltam a se reunir em plenário no próximo dia 30. Até lá, com o País paralisado, ficaremos todos em suspense, esperando o que os donos do poder vão fazer de nós.
Quase sem esperanças de uma vitória política no Congresso, com a debandada da base aliada, o governo Dilma já se prepara para entrar com recurso no STF, alegando "não ter base legal" o pedido de impeachment contra ela que avança celeremente na Câmara.
Na segunda-feira, o juiz Sérgio Moro remeteu ao STF o processo sobre as investigações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o ministro Gilmar Mendes havia mandado devolver para a Justiça Federal de Curitiba. Neste imbroglio jurídico interminável, caberá também ao STF decidir se Lula poderá ou não ir para a Casa Civil, cargo para o qual foi nomeado na semana passada, mas ainda não assumiu.
Depois de assistirmos nos últimos tempos à politização do Judiciário, vemos agora a judicialização da política, com os dois movimentos correndo paralelamente e colocando sob risco as instituições e o próprio processo democrático.
O quadro é tão surrealista que uma decisão sobre o impeachment de Dilma na Câmara pode agora acontecer dentro de apenas 30 dias, enquanto o processo sobre a cassação de Eduardo Cunha, já declarado réu pelo STF por corrupção, só deve ser votado pelo Conselho de Ética a partir de junho, graças às manobras de seus aliados. Quer dizer, Dilma pode cair antes e, se Michel Temer for junto, quem assume a Presidência da República é Cunha.
Enquanto isso, a Polícia Federal rebelada contra o novo ministro da Justiça, Eugenio Aragão, deflagra a 26ª fase Operação Lava Jato, batizada com o sugestivo nome de "Xepa", para o cumprimento de 110 ordens judiciais. Não é preciso dizer mais nada. O que falta?
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