terça-feira, 11 de novembro de 2014

KENNEDY ALENCAR: ELEIÇÃO NA CÂMARA FEDERAL

 
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff usará a reforma ministerial do segundo mandato para fazer acordos no Congresso a fim de derrotar o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), na disputa pela presidência da Câmara. O governo faz uma avaliação das suas forças na Câmara, pois, hoje, haveria risco de perder a batalha para Cunha.
 
A eleição para a presidência da Casa acontecerá apenas em fevereiro, mas os partidos já começaram suas articulações porque existe uma insatisfação com Dilma e o PT.
 
A relação entre o governo Dilma e a Câmara foi difícil no primeiro mandato. Hoje, há um espaço que tenta ser ocupado pelo líder do PMDB na Casa. A insatisfação com Dilma e o PT abriu caminho para Eduardo Cunha tentar amarrar uma aliança do PMDB com PR, PTB, PSC e Solidariedade. Juntos, esses cinco partidos formariam o chamado “Blocão”, com 152 deputados na próxima legislatura.
 
O PT é a maior bancada, com 70 deputados, mas, se ficar isolado, perderá para o “Blocão” de Eduardo Cunha, que tenta criar um fato consumado. No entanto, o peemedebista começou a articular cedo demais. Isso pode permitir uma reação do governo e do PT.
Dilma vai jogar toda a sua força para tentar impeder Cunha de presidir a Câmara. É um cargo muito poderoso, que decide quais projetos entram ou ficam fora da pauta de votação.
 
O governo, portanto, avalia as condições reais para saber se conseguirá derrotar Cunha. Há uma tentativa de tirar o PR, que elegeu 34 deputados, do blocão. Assim, essa aliança cairia de 152 para 118 deputados. Se o PT obtiver o apoio do PR, do PC do B, do PSD, do PDT, do Pros e do PRB, chegaria a 202 deputados. Claro que essas somas levam em conta acordos que façam com que todos os deputados eleitos por um partido deem apoio ao candidato. Mas sempre há defecções. O governo precisará aumentar deserções entre aliados de Cunha, inclusive no PMDB.
 
É real a chance de uma aliança governista isolar Cunha se Dilma usar a reforma ministerial do segundo mandato para amarrar o apoio desses partidos. A presidente pretende fazer isso. A reforma ministerial deverá ser casada com as eleições no Congresso.
 
Para vencer a disputa para a presidência da Câmara, são necessários pelo menos 257 votos, a maioria absoluta dos 513 deputados. Se um candidato não obtiver esses 257 votos no primeiro turno, é realizado um segundo turno.
 
Noutro movimento para enfraquecer Eduardo Cunha, o Palácio do Planalto já disse que aceita a reeleição de Renan Calheiros no Senado. No PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, avisou Cunha de que, se ele for hostil ao governo, vai trabalhar contra ele. Ou seja, Cunha é forte, mas não é imbatível. O governo tem bala na agulha e está fazendo um cálculo: ou entra para derrotá-lo Eduardo Cunha ou faz uma composição.
Hoje, a chance de compor é baixíssima, porque a presidente avalia que teria uma adversário no comando da Câmara, apesar de Cunha dizer que será um candidato independente e não de oposição.
 
O PT apresentou os nomes de Marco Maia e de Arlindo Chinaglia, que já presidiram a Câmara, para disputar novamente o cargo. Chinaglia tem leve favoritismo. Mas não são nomes que empolgaram. Podem surgir outras opções.
 
Numa eleição para a Câmara que ocorra em dois turnos, como é provável se houver dois candidatos da base do governo, existe chance de a oposição apoiar Cunha numa segunda fase só para derrotar Dilma. Juntos, PSDB, PSB e DEM terão 110 deputados.
 
O senador Aécio Neves (PSDB) defende que a oposição trabalhe pelo deputado federal Julio Delgado, do PSB de Minas. Mas há, nos bastidores, o desejo de complicar mais a vida de Dilma. Daí, um suporte a Cunha não ser desconsiderado.
 
Se o governo não tiver força para enfrentar Cunha e se não souber fazê-lo, correrá o risco de sofrer uma derrota, como aconteceu em 2004 com a eleição de Severino Cavalcanti para a Câmara. Naquela época, a insatisfação política da maioria dos deputados em relação ao governo levou a uma derrota do PT. Esse risco existe em 2014.

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