O rabo preso da revista Veja, da Editora Abril, com o governo de São Paulo, ficou evidente algumas semanas atrás, quando a publicação deu sua versão sobre o caso Siemens, como se o escândalo não tivesse qualquer relação com o PSDB paulista (para saber mais, leia "Tucaníssima, Veja rasga a fantasia no caso Siemens"). Mais do que uma ligação ideológica, ela é também financeira. Entra governo, sai governo, são renovadas, em condições especiais, assinaturas de revistas da Abril para professores e estudantes de escolas públicas paulistas. Além disso, o secretário de comunicação de São Paulo, o jornalista Marcio Aith, é ex-editor de Veja e pilota uma gigantesca máquina de publicidade, onde as revistas da Abril têm lugar especial.
Em 2012, com a derrota de José Serra para Fernando Haddad, a Abril perdeu um de seus pilares em São Paulo. Por isso, a hipótese de sofrer nova derrota em 2014, desta vez para Alexandre Padilha, contra Geraldo Alckmin, teria impacto devastador na editora dos Civita, na Marginal Pinheiros. Diante do risco, Veja deixa claro, nesta semana, que será o principal adversário de Padilha – talvez o maior – em sua luta para tentar se eleger governador de São Paulo, em 2014.
O arsenal deste fim de semana veio ancorado num tripé: editorial de Eurípedes Alcântara, uma vasta reportagem interna e uma chamada de capa. Nos três casos, são ofensas à inteligência do leitor, mas, na Abril, há a percepção de que esses ataques rasteiros funcionam – contra Haddad não deu certo e, em relação a Padilha, só o tempo dirá.
A chamada de capa é a seguinte: "Cubanização - Deixar os médicos sob a lei ditatorial de Havana é uma grave ameaça à soberania brasileira". O editorial de Eurípedes Alcântara, por sua vez, trata os médicos cubanos como servos. "Os petistas optaram por impor a eles a desonra de 'uma vez escravo, sempre escravo'", diz o texto do jornalista que comanda a publicação. Internamente, a reportagem assinada por Leonardo Coutinho e Duda Teixeira traz uma foto de Padilha e o título "O que ele admira é ditadura", afirmando ainda que o ministro da Saúde estaria a serviço de Havana.
Nem vale a pena perder tempo com os argumentos de Veja. Nem na Abril eles são levados a sério. Basta lembrar que, quando médicos cubanos foram trazidos no governo FHC, eles foram apontados como uma grande solução, quase um milagre (leia mais aqui).
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