Caro jovem interessado em jornalismo:
Você deve ter ouvido vaticínios
terríveis sobre o futuro do jornalismo. E isso pode estar fazendo você
desistir de ser jornalista.
Pois eu digo. Pense duas vezes.
O jornalismo não está acabando. Ele está, na verdade, passando por uma formidável transformação – para melhor.
O que vai chegando ao fim é a era do jornalismo em que o jornalista é um mero apêndice para os donos das corporações.
Alguns chamam isso de jornalismo corporativo.
Nele, o jornalismo é pago para defender as ideias dos donos e não para ajudar o mundo a se tornar melhor.
Você pode ganhar um salário bom, mas a
frustração é enorme. Você rapidamente aprende que os interesses dos
donos são prioritários.
Na era da internet, com a democratização da informação, o caráter nocivo das grandes empresas de jornalismo ficou estampado.
Não apenas no Brasil, mas em todo o
mundo. Os grandes jornais americanos, por exemplo, deram apoio a Bush na
criminosa invasão do Iraque.
Na Inglaterra, a sociedade se deu conta
de que os jornais faziam barbaridades não para defender o interesse
público, mas para vender mais e ampliar seus lucros.
Os ingleses acordaram depois que veio à
luz a informação de que um tabloide de Murdoch invadira a caixa postal
de uma garota sequestrada – e assassinada — em busca de furos.
A internet, ao atropelar a mídia tradicional, está destruindo este tipo de jornalismo, e não o jornalismo em si.
É um jornalismo em que, para fazer carreira, você tem que ser papista e obedecer cegamente ao papa, o dono.
Papista, para que você saiba, foi uma
expressão usada por um jornalista chamado Evandro para ser contratado
como diretor do Globo por Roberto Marinho.
“Sou papista”, avisou ele. Deu certo.
Vai surgir um jornalismo muito mais próximo dos sonhos dos jovens que sonham mudar o mundo.
O crescimento das empresas de
jornalismo, nas últimas décadas, tornou-as maiores – e piores. Razões
econômicas e financeiras se impuseram sobre as razões editoriais.
É isso que muda agora.
O jornalismo digital é mais puro. Não o feito pelas empresas tradicionais, que carregam para ele seus vícios.
Mas o que nasce na própria internet.
Os jornalistas, na mídia digital,
retomam a voz que tiveram um dia e que foram perdendo à medida que os
negócios passaram a ser prioritários para as companhias jornalísticas.
E a remuneração, e a carreira?
A internet vai encontrando novos caminhos para isso, longe das corporações que se desintegram.
Um deles é o crowdfunding, em que uma
comunidade banca um site ou um jornalista por entender que é bom que o
conteúdo produzido é relevante.
Um dos melhores jornalistas do mundo nestes dias – o americano Glenn Greenwald, que aliás milita na internet – faz crowdfunding.
É um caso entre vários.
No jornalismo digital, o jornalista vai poder fazer diferença. Não vai ter que escrever o que o papa quer.
A velha carreira vai chegando ao fim. Mas ela foi ficando cada vez pior, e é difícil lamentar seu término inglório.
É frustrante o papel de papista a não
ser que você seja um cínico interessado apenas em acumular moedas e se
agarrar a um prestígio precário.
A nova era devolve o jornalista ao papel de protagonista.
Por isso, deve ser saudada entusiasmadamente.
Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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