Fernando Barros, O Globo
(...) É sempre assim: faltando mais de um ano para a peleja, saem os primeiros relatórios dos grandes Institutos. Os resultados, é claro, refletem posições de certo privilégio dos nomes mais conhecidos. O eleitor, com pouco interesse pelo assunto, mas diante da abordagem firme — às vezes insistente —- do entrevistador faz um download forçado , desatualizado, da sua memória e descarrega suas preferências momentâneas.
Levam a melhor os nomes mais conhecidos. O "trade" (partidos, políticos, jornalistas) apressadamente destila e contabiliza aqueles números, praticamente antecipando resultados eleitorais que na sua maioria estão longe de ser confirmados.
Quem é do ramo sabe. Além de ser popular, o candidato majoritário, salvo exceções cada vez mais raras, tem, antes de mais nada, de conseguir compor uma estratégia política inteligente e uma firme coleção de apoios político-partidários. As regras do nosso jogo indicam isso com clareza indiscutível.
Os partidos podem não ser tão importantes para trazer os primeiros votos, mas são a parte mais visível do frondoso jabuticabal que faz das nossas eleições únicas no mundo com essas características. São as coligações as donas do apito e do campo. Elas formam o capital inicial necessário para o candidato ter acesso à mídia — tempo assegurado pela legislação — e agregam um exército de candidatos proporcionais que fortalecerá as bases do candidato majoritário.
As coligações também são fundamentais para obtenção do chamado "saneamento básico”, ou seja, recursos, dinheiro, para que o projeto tenha competitividade. Posso assegurar que um candidato, hoje, com impressionante popularidade morre de inanição na calçada se não conseguir fazer esse deverzinho de casa básico: ser apoiado por partidos e políticos que lhe garantam músculos para um enfrentamento vigorosos.
Mas gostaria de descer um pouco na análise da atitude de voto, tão longe do dia "D", tão distante da discussão mais travada que acontecerá nos dias que antecedem a eleição. Costumo dizer que o eleitor, tal como o consumidor, quer o que conhece e o que não conhece também. O desejo de voto neste momento é, por assim dizer, volátil, um site "em construção", se quisermos ser mais digitais.
Aí entra o Marketing, erros e acertos da estratégia, que vão mudando a intenção de voto. Há ainda expressivos percentuais de novos eleitores, que chegaram aos 16 anos, tiraram seus títulos e estão aptos para o primeiro voto. Estes noviços ainda estão mais sujeitos à influência da maré. Estudos qualitativos são, neste momento, mais indicados.
Mesmo assim, faço reservas. Pesquisas não podem ser interpretadas linearmente. Nem tudo é "batatinha, quando nasce, se esparrama pelo chão". Não podemos esquecer o contexto, a conjuntura, “the big Picture”, como dizem os americanos.
Engana-se quem acha que pesquisas definem as eleições. Senão nada mudaria. Nem precisava de eleição: bastava publicar resultados de pesquisas e estava tudo resolvido. Muitos cientistas políticos afirmam ser a eleição municipal a mais desgarrada dos grandes projetos políticos federais e estaduais. Seria como escolher um síndico para seu prédio. Nem tanto nem tão pouco.
Penso, as "Municipais" são as que mais possibilitam o surgimento de novos nomes. A renovação política é fertilmente irrigada pela chegada de novos, às vezes "inéditos" prefeitos. Mas raramente eles chegarão sem o suporte dos grandes partidos.
É cedo para se acolher como vencedores os primeiros nomes que surgem dos relatórios dos grandes Institutos. Não é hora da canjica. Canjica é em junho, depois do carnaval, do verão. Em junho fecham-se prazos, definem-se coligações, e a parte mais emocionante do embate inicia-se, com a mídia explícita, legítima, oficial. Melhores ou piores, são essas as nossas regras. Certamente ajudando a consolidar nosso país como uma das democracias mais notáveis do planeta.
Fernando Barros é presidente da Propeg Brasil, agência de propaganda e de marketing político
(...) É sempre assim: faltando mais de um ano para a peleja, saem os primeiros relatórios dos grandes Institutos. Os resultados, é claro, refletem posições de certo privilégio dos nomes mais conhecidos. O eleitor, com pouco interesse pelo assunto, mas diante da abordagem firme — às vezes insistente —- do entrevistador faz um download forçado , desatualizado, da sua memória e descarrega suas preferências momentâneas.
Levam a melhor os nomes mais conhecidos. O "trade" (partidos, políticos, jornalistas) apressadamente destila e contabiliza aqueles números, praticamente antecipando resultados eleitorais que na sua maioria estão longe de ser confirmados.
Quem é do ramo sabe. Além de ser popular, o candidato majoritário, salvo exceções cada vez mais raras, tem, antes de mais nada, de conseguir compor uma estratégia política inteligente e uma firme coleção de apoios político-partidários. As regras do nosso jogo indicam isso com clareza indiscutível.
Os partidos podem não ser tão importantes para trazer os primeiros votos, mas são a parte mais visível do frondoso jabuticabal que faz das nossas eleições únicas no mundo com essas características. São as coligações as donas do apito e do campo. Elas formam o capital inicial necessário para o candidato ter acesso à mídia — tempo assegurado pela legislação — e agregam um exército de candidatos proporcionais que fortalecerá as bases do candidato majoritário.
As coligações também são fundamentais para obtenção do chamado "saneamento básico”, ou seja, recursos, dinheiro, para que o projeto tenha competitividade. Posso assegurar que um candidato, hoje, com impressionante popularidade morre de inanição na calçada se não conseguir fazer esse deverzinho de casa básico: ser apoiado por partidos e políticos que lhe garantam músculos para um enfrentamento vigorosos.
Mas gostaria de descer um pouco na análise da atitude de voto, tão longe do dia "D", tão distante da discussão mais travada que acontecerá nos dias que antecedem a eleição. Costumo dizer que o eleitor, tal como o consumidor, quer o que conhece e o que não conhece também. O desejo de voto neste momento é, por assim dizer, volátil, um site "em construção", se quisermos ser mais digitais.
Aí entra o Marketing, erros e acertos da estratégia, que vão mudando a intenção de voto. Há ainda expressivos percentuais de novos eleitores, que chegaram aos 16 anos, tiraram seus títulos e estão aptos para o primeiro voto. Estes noviços ainda estão mais sujeitos à influência da maré. Estudos qualitativos são, neste momento, mais indicados.
Mesmo assim, faço reservas. Pesquisas não podem ser interpretadas linearmente. Nem tudo é "batatinha, quando nasce, se esparrama pelo chão". Não podemos esquecer o contexto, a conjuntura, “the big Picture”, como dizem os americanos.
Engana-se quem acha que pesquisas definem as eleições. Senão nada mudaria. Nem precisava de eleição: bastava publicar resultados de pesquisas e estava tudo resolvido. Muitos cientistas políticos afirmam ser a eleição municipal a mais desgarrada dos grandes projetos políticos federais e estaduais. Seria como escolher um síndico para seu prédio. Nem tanto nem tão pouco.
Penso, as "Municipais" são as que mais possibilitam o surgimento de novos nomes. A renovação política é fertilmente irrigada pela chegada de novos, às vezes "inéditos" prefeitos. Mas raramente eles chegarão sem o suporte dos grandes partidos.
É cedo para se acolher como vencedores os primeiros nomes que surgem dos relatórios dos grandes Institutos. Não é hora da canjica. Canjica é em junho, depois do carnaval, do verão. Em junho fecham-se prazos, definem-se coligações, e a parte mais emocionante do embate inicia-se, com a mídia explícita, legítima, oficial. Melhores ou piores, são essas as nossas regras. Certamente ajudando a consolidar nosso país como uma das democracias mais notáveis do planeta.
Fernando Barros é presidente da Propeg Brasil, agência de propaganda e de marketing político
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