O jornalista Elio Gaspari, colunista do Globo e da Folha, não se empolgou com o
discurso do senador mineiro Aécio Neves (PSDB-MG), na última quarta-feira.
Segundo ele, os tucanos ainda não foram capazes de articular um discurso que
reconheça méritos das políticas sociais do PT e proponha novos avanços. Leia
abaixo:
O melhor cabo eleitoral do PT é a oposição
O senador Aécio Neves fez um discurso pedestre, com boas
opiniões que não formam um ponto de vista
Anunciado como se pudesse vir a ser o discurso do então desconhecido
companheiro Obama na convenção democrata de 2000, o grito de guerra do senador
Aécio Neves foi um pronunciamento pedestre. Suas críticas à década petista têm
alguma procedência, mas terminam caindo na armadilha de quem tem muitas opiniões
sem que elas formem um ponto de vista. Viu o futuro no retrovisor. Se a exibição
das contradições morais, políticas e econômicas do comissariado levasse a algum
lugar, Lula não teria sido reeleito, muito menos colocado os postes Dilma
Rousseff no Planalto e Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo.
O tucanato continua encantado pela crença segundo a qual se uma
pessoa ficar com duas vezes mais raiva do PT, terá direito a dois votos nas
próximas eleições. Só a falta de assunto explica o fato de os tucanos terem
caído numa finta petista, aceitando uma antecipação precoce e descosturada da
sucessão presidencial do ano que vem.
Tome-se o espaço que o senador dedicou à educação. Exatamente 21
palavras: "O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi
incapaz de elevar o nível da qualidade na sala de aula". Médio. Segundo o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep, em 2007 havia
7,1 milhões de crianças matriculadas na zona de mau ensino, com avaliações
abaixo de 3,7 no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. Em 2011, esse
número baixou para 1,9 milhão. Há tucanos que fazem melhor? Em Minas Gerais, com
certeza. Em Alagoas, não.
Do outro lado da mesa estão as políticas sociais do governo. Se a
oposição admitir que algumas delas funcionam, todo mundo lucra, sobretudo ela.
Dois exemplos: o desempenho escolar das crianças beneficiadas pelo Bolsa Família
e a discussão do estímulo à criação do turno único nas escolas.
A velha demofobia ensina que dar dinheiro a pobre é assistencialismo
barato. No século 19 dizia-se que a abolição da escravatura estimularia o ócio e
a embriaguez dos negros. Hoje há gente que acredita que o Bolsa Família remunera
a preguiça da miséria e, como o ensino público é ruim, as crianças fogem das
aulas ou, quando comparecem, não aprendem. É a ignorância a serviço da
demofobia. Em 2011 a evasão escolar da meninada do programa no ensino básico da
rede pública foi de 2,9%. Já a evasão no universo das escolas públicas, segundo
o Censo Escolar, ficou em 3,2%. No desempenho, perderam de 86,3% a 83,9%.
Indo-se para o ensino médio, a garotada do Bolsa Família fez melhor tanto no
desempenho (79,9% x 75,2%) como na evasão (7,1 x 10,8%).
Enquanto a oposição mostra-se incapaz de erguer a bandeira do turno
único, o governo correu atrás da expansão do tempo integral nas escolas onde a
maioria dos alunos são beneficiados pelo Bolsa Família. Em 2010 havia 10 mil
escolas públicas com esse regime. Nelas, só 2.869 (29%) tinham maioria de alunos
cobertos pelo programa. Em 2012, as escolas com tempo integral triplicaram (32
mil) e 17.575 (54%) são frequentadas por crianças do Bolsa Família. Isso foi
conseguido com recursos do Orçamento e parcerias com prefeitos. Nem um tostão
federal foi gasto com tijolos, quadras de esporte ou salas para diretores. Muito
menos com clipes publicitários ridículos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe o seu comentário, dúvida ou sugestão.